Críticos do prefeito de Autazes, José Thomé Neto, são intimidados nas redes sociais com ameaças de processos

Críticos do prefeito de Autazes, José Thomé Neto, são intimidados nas redes sociais com ameaças de processos
Thomé Neto e Raymar Cabral

Circula nas redes sociais e em grupos de WhatsApp um áudio que traz ameaças de ações judiciais contra pessoas que compartilharem um vídeo gravado durante a campanha eleitoral de 2024. No registro, o atual prefeito de Autazes, José Thomé Neto — à época candidato — promete que, se eleito, iria ampliar o programa social Autazes Solidário, criado na gestão do ex-prefeito Andresson Cavalcante para atender famílias em situação de vulnerabilidade. O programa incluía ações como Fralda Garantida, Leite do Meu Filho, Vale Gás Social, Renda Social, Pão na Mesa, Mesa Cidadã e Dignidade Feminina.

À época, Thomé Neto afirmou que enviaria à Câmara Municipal um projeto de lei para garantir a continuidade do programa e criar um cartão-benefício no valor de R$ 300.

Segundo moradores, a promessa nunca foi cumprida, o que tem gerado insatisfação na população. Como forma de protesto, o vídeo com a promessa eleitoral tem sido frequentemente compartilhado nas redes sociais.

O áudio que ameaça processar quem divulgar o vídeo é atribuído ao servidor municipal Raymar Cabral, conhecido como “Cadeado”. Ele era considerado um dos principais críticos da atual gestão e publicava vídeos mostrando problemas de infraestrutura no bairro Jair de Menezes Tupinambá, onde reside.

Nos últimos meses, porém, após assumir função na prefeitura, moradores afirmam que Cadeado passou a atuar como uma espécie de porta-voz informal do prefeito, repassando mensagens de intimidação aos opositores.

Esse tipo de postura — o uso de processos por calúnia, difamação ou danos morais para pressionar críticos — é frequentemente apontado por especialistas como uma prática controversa na política brasileira. Embora qualquer cidadão, inclusive um prefeito, tenha direito a buscar reparação judicial caso se sinta ofendido, o uso repetitivo desse recurso contra opositores, jornalistas e lideranças comunitárias costuma ser interpretado como tentativa de censura ou de intimidação. O fenômeno é conhecido como “litigância estratégica contra a participação pública”.

Nesses casos, o objetivo não necessariamente é vencer a ação na Justiça, mas impor custos financeiros e emocionais ao crítico, desestimulando novas denúncias ou manifestações públicas. A jurisprudência brasileira, no entanto, tem reconhecido reiteradamente a importância da liberdade de expressão e de imprensa, rejeitando pedidos de indenização de gestores que tentam silenciar críticas relacionadas à administração pública.

A fiscalização das ações do Executivo é um direito de vereadores e cidadãos, e processos judiciais não devem ser utilizados para restringir esse papel. Há, inclusive, diversas decisões recentes em que prefeitos que moveram múltiplas ações contra críticos acabaram derrotados nos tribunais.

Em síntese, o caso de Autazes reacende o debate sobre o uso de processos como instrumento de intimidação e sobre a importância da garantia da liberdade de expressão no debate democrático.